segunda-feira, 18 de abril de 2011

UMA ESTRELA NO CÉU

“Havia numa fazenda um menino negro, que era tratado como escravo.
A mulher do fazendeiro, que era muito má, vivia maltratando o pobre coitado. Estava sempre dando tarefas para ele executar, e ai dele se não as cumprisse direito. Levava uma surra daquelas.
Um belo dia, já próximo do Natal, ele quebrou um jarro de planta e a “dona” deu-lhe uma surra que o deixou todo moído. Depois, mandou que ele ficasse de castigo dentro da pocilga. Ele chorou muito e dentre os porcos havia um que o rapazinho gostava muito e conversava com ele.
O porquinho se aproximou do menino, perguntando:
“Tá doendo muito, Zacarias?...”
E ele chorando, respondeu:
“Tá, porquinho. Ela não tem pena de mim... Me trata mal, não me dá roupa e nem me alimenta direito.”
E a noite chegou. O menino sentia muito frio. Sua patroa até esqueceu que o deixara lá de castigo. O pobrezinho dormiu agarrado com o amigo porquinho. No outro dia acordou com os gritos da mulher:
“Zacarias!... Ó menino levado!... Cadê você... Aparece, diabinho! Há trabalho à fazer...”
E assim foi que mais um dia, o pobre garoto trabalhou e só se alimentou no almoço.
A tarde, continuou no trabalho, consertando a cerca, cortando madeira e arrumando a lenha.
À noite, estava exausto. Tomou um pouco de água numa cuia e foi conversar com seu amigo porquinho:
“Ó, porquinho... Mais uma vez estou morrendo de cansaço...”
O porquinho notou que ele tossia muito.
“Meu amigo, você está doente. Deve se tratar. Essa tosse pode lhe prejudicar a saúde...”
E o menino disse:
“Eu sei, porquinho. Mas como posso me tratar? Se for falar com a patroa ela é capaz de me bater, dizendo que eu estou inventando doença pra não trabalhar amanhã... Não, prefiro esperar. Deus há de me curar...”
Dia seguinte, à noite, os dois amigos se encontraram de novo:
“Sabe, amigo - disse o porquinho. Amanhã é Natal, dia em que o menino Jesus nasceu... Dia em que muita gente ganha e dá presente aos seus familiares...”
“Eu sei - disse Zacarias. Eu nunca ganhei um presente... Sabe, porquinho? Se eu tivesse que escolher um presente, eu escolheria um avião, mesmo que fosse pequeno e coubesse só eu dentro...”
“E pra que você quer um aviãozinho, Zacarias?”
Perguntou o porquinho... O negrinho respondeu:
“Eu pegaria você e iria pra bem longe daqui. Pra um lugar onde pudéssemos ser felizes... Sabe, porquinho? Está vendo aquela estrela lá em cima brilhando? Dizem que foi ela que trouxe o menino Jesus pra manjedoura onde ele nasceu. Gostaria de ir pra lá e eu te levaria comigo...”
No dia seguinte, o menino, bem pior, procurou o porquinho depois do trabalho. Ficou sabendo que ele fora escolhido para fazer parte da mesa de Natal, por ser o mais gordinho de todos.
O menino chorou muito e, em sua doença, começou a delirar com febre.
Era quase meia noite, quando ele, ainda na pocilga, ouviu as vozes das pessoas na casa da fazenda, em meio as confraternizações e alegrias daquela noite de Natal.
De repente, tão cansado que estava, deitou-se e olhou para cima, em direção à estrela brilhante.
“Ó estrela anunciadora... Não tenho companhia e nem família. Até o meu porquinho me levaram. Gostaria de estar aí... Quem sabe, encontraria aí o menino Jesus... Mas não tenho forças nem pra me levantar. Como poderia caminhar até aí?... Vos peço, ó menino Jesus. Deixe-me morar aí consigo...”
E, faltando um minuto para a meia-noite, o menino fechou os olhos... Então, ouviu uma voz lhe chamar:
“Zacarias! Zacarias!”
Abriu os olhos e viu o porquinho correndo em sua direção:
“Porquinho!”
E este disse:
“Zacarias!... Chegou a hora! Vamos viajar para a nossa estrelinha.”
Zacarias disse:
“Mas não temos aviãozinho, meu amigo.”
E o porquinho disse:
“Não precisa. Veja!” E apontou pra cima. Uma luz desceu da estrela, se estendeu sobre eles e os levaram para o Céu.
No dia seguinte, a mulher má não achou Zacarias em lugar nenhum, por mais que o chamasse ou o procurasse.
E desde aquele dia a estrela brilhou com mais fulgor.”
E assim acabou a história...

*Estória de domínio público, com adaptação livre de João Manoel

Nenhum comentário:

Postar um comentário